Do meu carro vejo umas crianças chatas me ameaçando a paz. Torço para o semâforo permanecer aberto para que eu possa passar. Mas, não, claro que não! Seria pedir demais... agora uma daquelas crianças chatas vai vir me pedir alguma coisa. E eu vou ter de dizer que não e isso me irrita.
Aliás, pobreza, de um modo geral, me irrita. Por que as pessoas não nascem todas ricas? Mas, não, ficam aí, os pobres se multiplicando e me irritando. Pobre é uma tristeza... Ficam inventando onda... Como esse infeliz aí ao lado. Tá achando que é MP3, meu santinho?
Se ao menos os pobres se vestissem bem! Mas, não! Olha o pobre querendo combinar capa com camiseta... Pode? E isso é jeito de fechar uma capa? Parece até um cobertor! Olha! É um cobertor! E esse chapéu? Ninguém merece!
Veja só, vem uma criança ranhosa pedir 'uma ajuda' e nem sequer está devidamente vestida! Uma ajuda! A única ajuda que eu poderia das seria o endereço de uma boa loja nos jardins. Mas nem sempre consigo ser tão caritativo e gastar meu tempo dando informações.
O outro dia, pula diante de mim ou cai do inferno, sei lá, uma mulherzinha pedindo uma ajuda para comer. Aí não resisti. Na melhor das intenções, ajudei-a, claro. Disse-lhe "fia, vai já, imediatamente, fazer as unhas, o cabelo e comprar um vestido novo... Armani, acho que você ficaria bem de Armani. Entra num taxi e vai até o DOM. Lá você, mesmo esquisita, gostará do que irá comer! Mas vai agora que você precisa de muita ajuda para vir a comer bem!"
Ela, a mulherzinha, se invocou! Imagine-se uma coisa destas! Ela pediu uma ajuda; eu, ajudei. Ela não queria DOM, é um direito dela... poderia escolher um outro restaurante. Jardins, é claro!
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