Meu Querido Diário:
Amo tanto e com tal força em mim que não consigo, efetivamente, amar ninguém. Porque nunca me senti amada.
O amor que tenho em mim me torna grande, capaz de amar em quase-dor àquele que menos se imaginaria amado por mim. Mas, esse amor, feito de quases e antropofagias, pede para ser amado. Então, como folha em mítico outono, caio no chão e a chuva me apodrece.
Assim, não amo Alberto desde que o conheci e disse-lhe isso no primeiro momento enquanto, com sorvos curtos, bebericava uma bebida verde com gim.
"Não posso amar, Alberto. Nem sequer posso vir a amar você".
O amor me machuca, me fere, me assusta. Olho estarrecida os casais de apaixonados já prevendo as inúmeras dores que irão sentir. O amor faz doer. E eu me alimento de sorrisos da vida.
Então, passeio pela Oscar Freire olhando as vitrines e me sentindo traída por aquelas roupas que se deixam amar por mim.
Incomoda-me o frio e eu gostaria de andar descalça pela paulista ou de contar uma piada ao segurança do meu prédio que me abre a porta com aquele sorriso de quem é muito feliz, mas se nega a contar o segredo.
Saberá ele que consigo amá-lo tanto que chega a doer exatamente porque não o conheço?
Meu darling, diário, diário meu, existirá alguém tão assim como eu?
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